Francisco.
Certezabsoluta
Se eu fosse o Sr Certezabsoluta duvidaria de mim mesmo, de certeza. O meu sobrinho Francisco foi-se embora poucos anos depois de o meu irmão ter ido também para um sítio que não tenho a certeza onde é. Durante muito tempo foi o meu sobrinho querido, com quem partilhei muitos aniversários, muitos jantares em casa dele e também na casa da minha mãe, muitas férias juntos, etc. Depois do meu irmão, ficou ele. Não por ser mais importante que as minhas filhas, sobrinhas, mulher, etc, mas porque neste momento estou a falar dele e porque passou a ser alguém que ocupou o seu espaço de tal forma que ficou dono desse espaço. De um menino passou a homem e isso aconteceu quando o meu irmão, pai dele, morreu. O tempo que passou ao lado do pai, especialmente quando em casa assistia atentamente o que o Rob fazia ao selecionar fotos para o trabalho, músicas para uma festa, posts no blog, etc, despertou nele a curiosidade, o espiríto de observar e de descobrir. Tenho hoje a certeza que eram momentos muito especiais para ele. Quando abruptamente esse elo se quebrou, de uma forma violenta, digo violenta por ter sido repentino e súbito, ele ficou com a vida desarrumada como se fosse uma caixa de um puzzle cheia de peças soltas, ainda por juntar. Maõs à obra, foi o que ele fez. Despertou nele um sentido de obrigação e de procura, uma necessidade em descobrir o que não foi dito, o que não teve tempo de falar com o pai, desvendar o que não tinha explicação, o que ficou por responder. Não partiu sozinho nessa demanda. Tinha uma mãe e duas irmãs fantásticas, uma família amiga e uma mão cheia de amigos muito especiais e outros por descobrir. Eu não sei o que ele poderia vir a ser no futuro e até onde poderia chegar, que projetos iria ter e quantos filmes poderia fazer, mas uma coisa sei e aí tenho a certezabsoluta. Estava a começar a ser homem, uma pessoa grande com todas as letra, de certezabsoluta. Podia estar ainda no ínicio, mas já tinha percorrido um longo caminho para aqui chegar. Tinha personalidade, era uma amigo leal, tinha um humor fantástico, possuia o dom de comunicar, falava com amor e tentava encontrar em cada pessoa uma forma de chegar até ela. Para além disso, há a fotografia, sem deixar para trás a filosofia. Foi por caisa da fotografia e tambem da filosofia que nos aproximamos mais um pouquinho. Perguntava-me coisas que eu já fazia em modo automàtico e por isso não tinha as respostas prontas. Obrigou-me a ir buscar livros às prateleiras mais altas, consultar manuais antigos e recordar-me de passos que já tinha dado à muito tempo. Fez-me levantar do sofá e ir com ele andar por becos e travessas da nossa linda Lisboa para experimentar as potencialidades da película, fotografar com rolos a preto e branco ou a cores e depois ficarmos uma semana à espera de um próximo encontro para ver o que tinhamos feito e falar sobre isso. Visitamos tascas e abres. Bebemos uns copos de vinho por esses caminhos, pois a vida não é só trabalho. Aventuramo-nos em conversas mais pessoais, mais secretas, como que a ver até onde podíamos ir e se podiamos ser para além de família, uns amigos de verdade. Tudo parecia estar certo e perfeito. Tinha um novo companheiro que pensava muito próximo de mim e que me deixava ouvir esses pensamentos. Ouvia-me com atenção e depois coçava a sua barbinha e pensava por si próprio. Ele precisava de mim, e claro, eu precisava dele. Sentiamo-nos bem com isso. De repente, o elo quebrou. Outro elo quebrou. Tenho a ceretezabsoluta do que estou a dizer. Tenho a certeza que não o vou ver mais. Não tenho a certeza para onde ele foi. Tenho a certazabsoluta que gostava dele, e muito. Estejas onde estiveres, fica bem meu querido sobrinho. Eu por cá vou andando e nao te preocupes, pois já aprendi a ficar bem. Uma coisa é certa. Tenho a certeza que vives no meu coração, só tenho é de me lembrar disso para ter a certeza que é verdade.
um abraço do tamanho do mundo!
Tio
Este post é (tb) para quem fica por aqui e que amo muito. Minha cunhada, minhas sobrinhas, filhas, mãe, amigos de sempre e os que virão.
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