25 de Abril, sempre!

Há 37 anos, pelas 4 da manhã, regressava a casa depois de uma noite bem passada com amigos do meu irmão. Sobrepunha-se ao ruído da minha motorizada Hércules,a música Wooden Ships dos Crosby, Stills & Nash e já perto de casa, na antiga passagem de nível de Paço de Arcos, tive de abrandar e parar porque atravessava a linha de comboio vários veículos pesados militares. Não liguei muito ao facto, segui para casa e deitei-me abraçando a mesma almofada que há já alguns anos não parava de contar histórias de uma gerra em Afríca que teimava em aparecer nos meus sonhos e interpunha-se no meu futuro como uma montanha . Por mais voltas que desse na cama, sabia que o meu destino passava por sair do país ou, mais tarde ou mais cedo, teria de embarcar num navio no cais de Alcântara ,como tantos outros portugueses que apareciam na televisão, com destino à Guiné, Angola ou Moçambique, lutar por uma guerra e uma crença de futuro que já não era a minha. Não mencionei Cabo-Verde de onde sou ou outras ex-províncias ultramarinas porque não havia tiros por lá e a guerra a haver era silenciosa.
Nesse dia, acordei horas depois com gritos de alegria da minha mãe. Para além do barulho que ouvia vindo do andar de baixo, o que vinha da rua entrava pela casa com a força toda e parecia que porta e janelas estavam abertas e por isso saltei da cama  Ouviam-se vozes da rádio indistintas e em distorção, música e gritos na rua. Levei alguns segundos ou minutos a perceber que algo tinha acontecido, e mais tarde percebi que tinha sido algo de muito bom. As primeiras palavras que percebi no meios dessa sinfonia ruidosa e inteligível e que me trouxe uma felicidade que não consigo ainda hoje explicar nem transcrever, foi algo assim que a minha mãe disse: Acabou a gerra, já não têm de ir para a gerra. O Governo tinha caído e o país estava nas mãos dos militares. Ouve a rádio, dizia a minha mãe, Está a dar constantemente em todas as estações. Grândola e outras músicas que hoje ainda nos soa com alguma nostalgia eram a música de  fundo de muitas vozes que gritavam liberdade e democracia. O Povo uniu-se pois algo de novo estava a acontecer e  um futuro de esperança nascia a cada minuto. O povo saiu as ruas e deu as mãos gritando liberdade.
Viva o 25 de Abril! 
Que continue a esperança e que o sonho nunca morra!

Abaixo, imagens de alguns amigos que na primeira década a seguir ao 25 de Abril de 74 me acompanharam e ajudaram a perceber esta nova realidade. Alguns não estão porque não sei onde estão algumas caixas de fotografias:)
Um bom feriado a todos!

1 comentário:

  1. É sempre bom rever velhas imagens de velhos amigos. Obrigao Raúl!
    Viva o 25 de Abril!!!
    Luís

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