É tão bom ter tempo para andar por aí sem destino ou horas de chegar, percorrer um caminho que não conhecemos à espera que em cada curva sejamos surpreendidos, ou pura e simplesmente parar neste sítio e deixar que esta imagem nos leve a outros sítios e outros tempos.
fachada
Num bairro em construção constante, com as casas em cor de cimento e sem finalização à vista, 3 vizinhos juntaram-se e (eventualmente) quiseram dar uma ideia diferente do bairro onde vivem. Uma coisa é certa, para mim serviu muito bem, independentemente da razão que os levou a tal . Parei o carro, voltei uns metros atrás e registei este plano.
bola de pano
A bola de pano que substituía a bola de catchou nem sempre acessível as pequenas bolsas, rolava alegremente pelas ruas empedradas, arrastando rostos alegres e outros aguerridos, de crianças descalças, todos eles com um sonho de futebol. Nos domingos, as mesmas crianças e muitas outras pessoas de idades e clubes variados, sentavam-se à sombra nos beirais e passeios das casas e bares, escutando o relato de um dos grandes clubes da longínqua terra Lusa. Neste café, o estádio não tem bancadas e o campo é de terra e é-nos apresentado por uma fotomontagem brilhante. Entre os postes desta baliza, assiste-se a 3 jogadas diferentes no tempo e acção, sendo que uma delas deu golo à equipa atacante. Não houve palmas nem gritos, pois era uma jogada já habitual para os fregueses deste café.
Uma pausa no trabalho...
Muitas vezes depois de almoçar, sinto um cansaço enorme e digo aos meus colegas que nunca se devia ter abolido a sesta, lembrando-me das belas tardes de calor que eu meu meu irmão Roberto passávamos na varanda da casa da minha tia, deitados nas espreguiçadeiras a ouvir as vozes distantes que vinham de quem passava na rua, misturados com a conversa pausada e intermitente dos meus tios e primas que, ao nosso lado faziam o mesmo que nós. Descansar, dormitar, fechar os olhos e viajar para outros mundos.
O momento da pausa desta crioula "atirou-me" para uma descrição que a escritora Isabel Barreno faz no livro "O Senhor das Ilhas", história passada no Sal ( Cabo Verde), e que explica um pouco, entre outras razões, o porquê de uma miscigenação tão natural neste arquipélago, então província portuguesa. As ilhas, no meio do mar e sem grandes defesas às intempéries e aos ataques de piratas, que na altura eram frequentes, os patrões e os criados escravos fugiam lado a lado, sem saber quem lavava nos braços o filho de quem. O amor nasce de muitas formas e por várias razões, seja qual for a história desta menina, concluo que boas coisas resultam de momentos difíceis e decisivos de um povo ou simplesmente de pessoas.
O momento da pausa desta crioula "atirou-me" para uma descrição que a escritora Isabel Barreno faz no livro "O Senhor das Ilhas", história passada no Sal ( Cabo Verde), e que explica um pouco, entre outras razões, o porquê de uma miscigenação tão natural neste arquipélago, então província portuguesa. As ilhas, no meio do mar e sem grandes defesas às intempéries e aos ataques de piratas, que na altura eram frequentes, os patrões e os criados escravos fugiam lado a lado, sem saber quem lavava nos braços o filho de quem. O amor nasce de muitas formas e por várias razões, seja qual for a história desta menina, concluo que boas coisas resultam de momentos difíceis e decisivos de um povo ou simplesmente de pessoas.
Desenhos ao sol
Sítio no topo do mundo
Esta serra, ponta final da espinha dorsal que atravessa praticamente toda a Ilha do Fogo, (Cabo Verde) acolhe uma belíssima e pequena pousada para quem quer pernoitar na Chã das Caldeiras, palco de algumas erupções do sumptuoso Vulcão do Pico (2.800 mts de altitude) . A tranquilidade do sítio e das gentes que lá vivem e que não param de procriar, grande parte deles descendentes de um nobre francês Armando Montrond que por desventuras veio parar a este sítio, contrastam com o espírito de um lugar onde a natureza pode escolher a qualquer momento manifestar-se. No meio e no centro disto tudo, este tronco "cabresto" na sua força e percurso, parece desenhar os momentos de silenciosa intranquilidade que este lugar viveu, onde a paz enorme, a beleza e o isolamento coabitam com uma infinita e secular inquietude.
A crioula e o grogue
Para além das migas....
Para além das migas, sopas de cação, queijos de ervas das margens de ribeiras, a calçada lavada e imaculada, o Alentejo surpreende-nos sempre. O branco caiado, as linhas dos portais e janelas, as formas curvas e despreocupadas desta rua, parecem fazer parte de um itinerário que obriga o visitante da lindíssima vila de Monsaraz a parar..., respirar...observar...deliciar-se e só depois subir ao Castelo e ver o horizonte até perder de vista (agora com uma barragem a sério, que se estende até à fronteira e que está dia a dia a misturar-se com a paisagem que lá existia há séculos)
Direito por linhas tortas
As linhas algo desencontradas e as cores utilizadas, resultado sem dúvida, de um trabalho árduo de melhoramento por parte do proprietário desta casa, revelam no final algum sentido do equilíbrio. Muitas vezes na vida cruzei-me com esta frase "direito por linhas tortas". Quem não escolheu já um caminho tortuoso para chegar a qualquer lado que idealizou, mesmo pagando o preço em "quilómetros"? No final, o equilíbrio mesmo que precário, justifica-o!
O prazer de fotografar
A milha filha interrogou-me sobre a fotografia da mesma forma que há muitos anos, quando comecei a seguir as passadas do meu mano, a quem homenageio aqui, perguntei a mim mesmo: como conseguir as belas fotografias que ele fazia? A minha Nikkormat equipada com belas lentes intermutáveis, a 50mm, 28mm e uma 105mm, que ele me ofereceu, não conseguia por si só resolver os problemas com que me deparava para conseguir pelo menos pela primeira vez um fotograma pleno. Quando observava as fotos que ele trazia da rua, dos ensaios do Ephedra (grupo de Rock/Jazz Sinfónico dos anos 70 que me marcou e enriqueceu a música portuguese nesses saudosos anos, as fotos de noites tertúliantes e estonteantes no antigo e popular Bairro Alto, na altura mais na onda de vinho tinto e gentes portuguesas, tentava perceber o porquê de umas serem fotografias especiais e outras serem apenas imagens captadas por uma maquina. Foi preciso em primeiro lugar perceber como dominar a Luz usando a velocidade e o diafragma, sendo que a escolha da melhor hora de luz e as condições da mesma tambem "entram no baralho". Depois, manusear o foco, a objectiva (lentes) e a profundidade de campo, tudo isto para decidir o que deixamos fora ou dentro do enquadramento. Ainda hoje estou sempre à procura de fazer melhor; entretanto esqueci-me da mensagem que eu queria passar à minha filha, que é a razão desta foto do Roberto. Vejam o PRAZER e o SORRISO com que ele está no momento em que vai fotografar. Pode aplicar-se esta "nota" à arte de cozinhar, trabalhar em madeira, etc..etc.
Obs: isto é só uma confissão que achei engraçado partilhar. A minha primeira ferramenta de aprendiz de fotógrafo, foi perceber e depois começar a utilizar a informação que vinha nos rolos de película - 5 ou 6 imagens do Sol, Neve, Meio Sombra, Sombra, Escuro, juntamente com a informação da abertura (diafragma) que se devia usar para obter uma boa foto a uma velocidade de 60/125 com que trabalhavam (por defeito) as camaras baratas antigas:)
Boas fotos a todos....e em especial à minha filha!
Obs: isto é só uma confissão que achei engraçado partilhar. A minha primeira ferramenta de aprendiz de fotógrafo, foi perceber e depois começar a utilizar a informação que vinha nos rolos de película - 5 ou 6 imagens do Sol, Neve, Meio Sombra, Sombra, Escuro, juntamente com a informação da abertura (diafragma) que se devia usar para obter uma boa foto a uma velocidade de 60/125 com que trabalhavam (por defeito) as camaras baratas antigas:)
Boas fotos a todos....e em especial à minha filha!
Acordar
A vila de S. Filipe acordava ao som surdo dos pés descalços na calçada, misturado com as vozes coloridas das mulheres que na cabeça transportavam os seus balaios carregados de lenha, papaia, cajú, melancia e um sem fim de outras coisas, em direcção ao mercado. A vila despertava assim. Ao longe, impávida e distante, a ilha da Brava recebia os primeiros raios de sol.
Paisagem de Lava
Voltei à ilha onde nasci ao fim de 36 anos. Esta e outras imagens do passado nunca serão iguais às registadas em criança. Subi este Vulcão da Ilha do Fogo em 1968. Tinha então 13 anos e como qualquer português que andava no liceu, já arranhava línguas, pelo que os meus pais me pediram para acompanhar um casal de franceses recentemente chegados à Ilha a uma subida ao vulcão. Nessa altura não havia nenhum projecto de apoio ao turismo nestas ilhas e nem em território ultramarino (antigas colónias). Horas a subir a pique, suor na testa e na costas, arranhões nas pedras e pequenos arbutros que resistiam a esta paisagem lunar, não iludiram a enorme vontade de vencer barreiras e as pernas atléticas de um jovem de tenra idade e de personalidade irrequieta e assim fez desta trip mais uma pequena vitória na sua vida. A vista lá em cima era deslumbrante. As 10 ilhas não se podiam esconder dos nossos olhos arregalados e sedentos, e o mar no horizonte desenhava uma linha curva devido à altitude. Fui surpreendido nos meus pensamentos pela convocatória dos meus companheiros para uma refeição. Sentado no chão preto de lava, saboreei uma banana, único alimento que os meus convivas tinham. Como estavam com um ar feliz, percebi que no entender deles a refeição era suficiente. Foi a primeira vez que subi um vulcão e que convivi com franceses.
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