Uma pausa no trabalho...

Muitas vezes depois de almoçar, sinto um cansaço enorme e digo aos meus colegas que nunca se devia ter abolido a sesta, lembrando-me das belas tardes de calor que eu meu meu irmão Roberto passávamos na varanda da casa da minha tia, deitados nas espreguiçadeiras a ouvir as vozes distantes que vinham de quem passava na rua, misturados com a conversa pausada e intermitente dos meus tios e primas que, ao nosso lado faziam o mesmo que nós. Descansar, dormitar, fechar os olhos e viajar para outros mundos.
O momento da pausa desta crioula "atirou-me" para uma descrição que a escritora Isabel Barreno faz no livro "O Senhor das Ilhas", história passada no Sal ( Cabo Verde), e que explica um pouco, entre outras razões, o porquê de uma miscigenação tão natural neste arquipélago, então província portuguesa. As ilhas, no meio do mar e sem grandes defesas às intempéries e aos ataques de piratas, que na altura eram frequentes, os patrões e os criados escravos fugiam lado a lado, sem saber quem lavava nos braços o filho de quem. O amor nasce de muitas formas e por várias razões, seja qual for a história desta menina, concluo que boas coisas resultam de momentos difíceis e decisivos de um povo ou simplesmente de pessoas.

4 comentários:

  1. achas que fiz uma "elipse" demasiado grande?

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  2. Quantas e quantas vezes a morna sesta não terá sido interrompida por tal rubra fuga... Espaço, ainda assim, fértil para a ternura do "sem saber quem levava nos braços o filho de quem".
    Da foto - grandiosa sesta a dos pés: descanso (também) e liberdade (muito mais). Por mais pequena que seja a amarra...

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  3. e sentada em cima do saco cheio, para não sentir a rectidão e dureza da escada...

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